sábado, 9 de abril de 2011

A Rosa e o Ogro

Sábado. Na véspera, você foi ao shopping. Escolheu cuidadosamente aquela lingerie linda, pensando na sua noite especial: Um jantarzinho à luz de velas naquele restaurante novo que há muito desejava conhecer. Comprou bolsa nova, sapato alto combinando. Escolheu um perfume somente para a ocasião.

Passou praticamente o dia todo no salão. Pintou o cabelo, fez hidratação, escova. Escolheu uma cor nova de esmalte para as unhas. Maquiou-se impecavelmente. Estava pronta!

Chegou em casa bem à tempo. Estava deslumbrante!

Abriu a porta de casa e viu o marido sentado no sofá, em frente à televisão. Um copo de cerveja em uma mão e um cigarro na outra, assistindo jogo de futebol.  Estava sem camisa, com aquela barriga protuberante de fora e barba por fazer. Parecia já um pouco alterado pelo álcool. A sala, uma verdadeira bagunça. Restos de pizza na mesa de centro com algumas moscas passeando em cima.

Apesar do cenário desolador, você tentou iniciar um diálogo com uma avalanche de indiretas pra ver se ele percebia a sua intenção de sair. Mas nada funcionou. Nem ao menos notou seu novo visual. Nem ao menos desviou o olhar da televisão em sua direção, o que lhe causou estranheza, já que no caminho de casa, alguns outros homens olharam pra você com ar de desejo.

Terminou o primeiro tempo. Ele ligou para um amigo a fim de discutir o pênalti não marcado pelo juiz. Na tv, começava o "show do intervalo".

Ele conversava animadamente com o amigo ao telefone e desligou quando iniciou o segundo tempo.

Suas esperanças de uma noite romântica começavam a se esvair. Tanto esforço por nada.

Você então retirou a maquiagem e entrou no chuveiro. Chorou um pouco e ficou pensando se isso era normal. Ou não?  Apesar das dúvidas que pairavam na sua cabeça, fora educada por seus pais pra ser uma mocinha bem comportada.  Mocinhas bem comportadas não costumam questionar as coisas, não é mesmo? Sentiu um misto de frustração e culpa.

Mas... Culpa? Por quê? Você quem devia se sentir mal?

Ficou ali imaginando se as coisas podiam ser diferentes, se havia uma alternativa. A vida que estava levando em nada lembrava os sonhos de infância. Haveria uma saída?

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